Água Preta, PE ...[ASN] Ferros retorcidos em meio a entulhos, pontes que não mais existem, cabos de eletricidades estourados nas ruas, árvores arrancadas e casas destruídas. O mundo é assim agora para as cidades na divisa de Alagoas e Pernambuco, vitimadas pela maior enchente já registrada nesse lugar.
Até o momento em que esta reportagem foi escrita, as autoridades anunciavam 57 mortes, 180 mil desalojados e desabrigados, 70 desaparecidos. Todos estão assustados, apesar de acostumados com a regularidade da intempérie, cíclica e devastadora.
Onde havia ruas, praças e comércio hoje há apenas escombros, e pessoas tentando se acomodar nesse ambiente de caos. Existe muita gente nas ruas se abraçando e chorando, tentando conversar e até sorrir, numa luta sem trégua para manter a lucidez.
As pessoas caminham em meio a entulhos, crianças brincam sob lama e destroços. As águas começaram a baixar e deixaram toneladas de lama, que revelam sofás, televisores, camas, colchões, geladeiras e cadáveres de animais.
Homens e mulheres usando botas de borracha tentam resgatar o que podem. Amara Maria da Silva mostra uma geladeira retirada de lama. Ela está vazia, e assim deve permanecer. Pessoas com máscaras transitam aqui e ali, o clima é seco e a umidade do ar quase inexistente. A Defesa Civil do Estado teme que doenças se propaguem pelo ar, provocando uma epidemia. Uma pessoa morreu com dengue hemorrágica na cidade, e o temor é de que isto seja só o começo. Há cheiro de animais mortos em todo o lugar, a rua do açougue municipal beira o insuportável.
Letícia Maria de Lira aponta os estragos em sua casa modesta. Sua neta, de apenas seis meses, dorme envolvida pela poeira levantada por caminhões do exército que ajudam a retirar o lamaçal e o entulho das ruas. Letícia sentiu quando às margens do Rio Una, por trás de onde mora, pareciam tremer com o volume das águas que se juntavam desde Canhotinho, no agreste de Pernambuco, formando um tsunami capaz de varrer o que estivesse à frente. Sobreviveu ao correr para o alto levando consigo a neta e sete filhos, todos equilibrando-se sobre a laje de uma serraria.
As pessoas estão confusas e desajeitadas. Olham para todos os lados e clamam por socorro. Há aglomerações em frente a igrejas, prefeituras, câmaras de vereadores. Estão atrás de comida, colchões, água potável, sobrevivência. A cozinha montada pela Ação Social Adventista movimenta voluntários que se desdobram para atender as vítimas. Por dia, cerca de 200 pessoas recebem duas refeições, pela manhã e a tarde. Os alimentos vêm de várias cidades do Estado, pessoas sensíveis ao drama dos sobreviventes das águas. Para Henrique Alves, articulador da emergência adventista na cidade, a cozinha pode ficar até o final de julho, se for mantido o volume de doações.
Uma escola ficou em ruínas, centenas de casas estão parcialmente destruídas. Nas ruas as pessoas tentam se ajudar em um mutirão de limpeza, retirando de casa água e lama. “Nunca vi nada assim em toda a minha vida”, disse Laodicéia Constantino, sem parar de varrer para fora de casa a água que acabou com tudo o que tinha.
No alto de uma casa de dois pisos, a água deixou marcas que apontam ter se elevado há três metros. Sobre a varanda, sentado em uma cadeira de plástico, um homem aparentando idade em torno de 50 anos aproveita para tomar sol e ler "O Futuro da Humanidade", de Augusto Cury. Ter um futuro, definitivamente, é o anseio de todos os que escaparam de uma das maiores tragédias já ocorridas no país.















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